quarta-feira, 30 de abril de 2008

Poesia metamórfica


Do que está escrito, do que se omite sem que disso se faça caso, do que se deixa subentendido e pertença à Memória Comunitária. Do que não se escreve mas discute detalhada e pormenorizadamente.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Atlas


Abrimos um livro enorme, encontrado por uma das mãos num mercado perdido em Itália, que tratava do Mundo Che Connoschiamo, que redesenhava os mares como eram conhecidos há mais de 40 anos, que traçava fronteiras impossíveis na era digital. Descreve contornos que em breve deixarão de existir, perfis de uma Terra que nos promos cobrir de vagas de fumo de avião, riscado em traços de comboio e apagados com pneumáticos privados. O percurso m si escapou-nos mais uma vez, como um vilão de uma história de detective de cordel (preso à maçaneta porta, passando por cima da viga do escritório eternamente crepuscular, em torno do pescoço depido de gravata esquecida sobre o colarinho aberto e encarquilhado)... Só sabes que queremos ir. E voltar, mas ir. Seguir com um bocadinho dos sonhos que escaparam as paredes do convento, do segundo andar electrificado de exercícios entumescentes e escadarias entorpecedoras... nem o café nos salva a mente... não quando outros não o deixam funcionar. Não é psicológico, é ambiental. Porque até gostamos do que fazemos. Se no deixarem. Abrimos o livro descomunal entre as torres imperiais e os pequenos reservatórios de sede eminente e partilhamos momentos de clarividência, de racionalismo prático embrulhado em padrões de pequenos desejos, de pequenos imaginários. Voamos em conjunto para além do café. Já nem reconhecemos a esquina. Voamos com amigos que, não estando sentados connosco, vivem connosco um futuro próximo, traçamos um percurso comunitário que nos protege.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Anjo da Guarda


...mas se eu sou de Moscavide!?

domingo, 27 de abril de 2008

trans-psychosis


Três dias seguidos a despejar ideias, para trabalhos meus e dos outros, três dias, entre mensagens de telemovel e mails com propostas provocatórias, três dias que alteram por três outros dias a possibilidade de uma maneira de viver. Uma viagem em grupo, umas férias a dois, um percurso pessoal (demasiado, talvez?). Três dias para decidir, para sentir que opções tomar, decidir projectos escolares, intra-curriculares, meta-unitários... beta-carotenos e pipocas de mielina que estoiram... coelhinhos alados? hah. já agora...

sábado, 26 de abril de 2008

passo cruzado


Um dois, três quatro, um dois... e!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

jantar de 25 Abril



Depois das manifs, da manhã ao som de Zeca Afonso, depois dos cravos ao peito das turistas e atravessados nas malas lisboetas, depois de umas horas num banco no Camões e subir a Avenida da Liberdade, um jantar entre amigos ao som de um concurso de canto (fados, naturalmente), as flores caem nas toalhas de mesa de um restaurante pequeno e pouco refundido...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

máscaras em bandeira


"Primitive", feito a medida para http://illustrationfriday.com...

quarta-feira, 23 de abril de 2008

desenhando a prumo

Coisas que nos ficam na cabeça por vezes, no ar perdidas nem tanto, nos bolsos esquecidas ao fundo ao pé de um lenço raspado outrora no nariz de um desconhecido... rolinhos de cotão, restos de lãs em nó, umas migalhas de recibos e lanches anteriores, medalhas de conversas e chás das cinco. Há coisas que nos restam, que ficam nos passeios quando passamos, assobios encravados na calçada, entre as pedras brancas e as negras... bitmaps no chão, porque não...

terça-feira, 22 de abril de 2008

mulheres... tem dias!

domingo, 20 de abril de 2008

Conversas de Alzheimer III

sábado, 19 de abril de 2008

25 Abril, quase aí


Às vezes sou um bicho por antecipação... e que prima pelas referências trocadas, por que não?

sexta-feira, 18 de abril de 2008

As três graças


Três alminhas, encarquilhadinhas e abafadinhas sob pesados sobretudos, porque faz um frio desses que fazem ranger os ossos, de humidade... discutiam baixinho a frente do talho com a cartela mais interssante de erros ortográficos aqui do bairro, abrindo e fechando alternadamente caixas com dobradiças de mola, trocando óculos de graduações variadas, experimentando-os no nariz, equilibrando-os melhor ou pior a frente de um par de olhos pitosgas de saber de rua...

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Conversas de Alzheimer II

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Design Parlatif

Depois de um ciclo de conferências completamente arruinado por um relatório obrigatório que de repente delimitou todo o interesse humano que se poderia ter, matando completamente o desportivismo de um evento deliciosamente encriptado (um bocadinho de abstraccionismo nunca fez mal a ninguém), um conselho precioso resta apenas... nunca peçam a um designer que vos explique o que é ao certo o que faz... são raros os que sabem e os que sabem, raramente são designers.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Conversas de Alzheimer


Meu caro, queira desculpar tamanha indelicadeza, mas o senhor traz-me à memória alguém muito familiar...

lutas de géneros

Quando as origens são reveladas através dos pequenos gestos que fazemos, através do traço com que assinamos uma factura, as reminiscências incluídas num caderno diário repleto de delírios ulteriores que nos foram impostos a horas desonestas da manhã... quando tudo se torna demasiado óbvio e repetido, quando já nem conseguimos saír de um auditório e temos as costas pregadas a uma cadeira felpuda e amarela... quando todo esse mar se torna demasiado cristalino e nos encontramos em águas que não são as nossas e a areia da costa já se perdeu de vista... quando só há uma coisa a fazer. Largar tinta a fugir...

segunda-feira, 14 de abril de 2008

falando em extraterrestres


PoSat 1, o primeiro e único satelite português, posto em órbita em 1993, vai ficar a prescrutar o perímetro cósmico do planeta... até 2046, ao que parece. Como será a nova geração terráquia por essa altura? Que países resistirão? Será que isso ainda vai interessar?

sábado, 12 de abril de 2008

ressaca de tempestade miúda

Numa tarde de chuva fina, três mulheres viram-se apanhadas numa ventania que ameaçava trazer as nuvens por terra... com precisão e paciência. Passaram a rua onde os peões muitas vezes se esquecem de olhar para os faróis meio-acesos que vêm da esquerda. Apertando o lenço em torno da cara, que não entrasse o frio que nos apanhou a saltar uma poça, rindo para aquecer a amizade que as une. No meio de uma cidade que quase já nem é Lisboa, os prédios ganham novas asperezas, os contornos mais definidos pela falta de pó, as cores mais garridas pelo foco solar que apenas surge quando só algumas nuvens lhe dão passagem. Estamos à mercê dos elementos, à mercê dos semáforos, à mercê de regras que nos conhecem desde pequeninas e agora nos deixam molhar o cabelo e enregelar os pés. A estrada tornou-se irreconhecível porque em nada se distinguem os poucos metros que podemos alcançar de olhos semi-cerrados de todos os outros curtos metros de cimento e calçada de um outro e qualquer dia de chuva. Andamos de memória, porque confiamos que, entre as três alguém se lembrará de uma parte do caminho que as outras deixaram de distinguir. Contornando as esquinas invisíveis, demarcadas por fios grossos de tubagem presa ao betão e à relva, passa por nós gente mais apressada em não se molhar mais, correndo contra o vento e apanhando o espaço gelado de fronte. Risos cada vez mais curtos mantêm agrupados os passos tri-partidos. Na minha cara, um esgar de frio sobressai ao amor que tenho pelo vento, pelo ar que por mim passa sem levar o pouco calor que se esconde num lenço enrolado ao pescoço. Acho que fiquei mesmo com um pouco de vento na cabeça. Terei de o soltar. Ainda estou para descobrir como...

sexta-feira, 11 de abril de 2008

um olhar diferente


Que me guiassem os pés, que me gozassem um bocadinho por os deixar à solta, como aliás faço de vez em quando. É mais fácil deixar o pensamento divagar quando deixamos de nos preocupar onde pomos os pés, em quem pisamos ou em que buraco na calçada cairemos a seguir. Dói menos quando nos gozam por nos deixarmos ir do que quando nos deixamos caír sem razão aparente.
De olhar perdido nos pequenos pormenores que encontro a cada esquina, a cada recta, a metros acima da cabeça ou que me vêm roçar directamente nos braços, deixo de sentir o vento para sentir a côr, cheirar as linhas que me levam consigo. Deixo mesmo de ouvir quem acompanho só para levitar um bocadinho nesse lugar momentaneamente abstracto. Escondidos por detrás de umas míseras dioptrias, pequenos vazios absorvem a luz que ribomba de todas as mais pequenas texturas, por vezes; das mais simples composições, por outras.
Esse olhar deixou de ver o que lá está por fora para se deixar restar no que o assalta por dentro, nas gentes que ficaram algures num espaço, sempre algo também abstracto, numa suspensão temporal absurda. O olhar talvez se deixe ficar sempre intrínseco, nunca vendo exactamente essa vontade que se deixa observar, estarrecida pelo percorrer orbital alheio e expondo-se sempre mais uma vez...

numa exposição sem fumo


Dias de liberdade incondicional quebram-se pouco a pouco em desmesurada inconsistência, um remoínho de lazer que não sobe escadas, que não vê quadros, que deixa mesmo talvez de sentir os amigos escondidos debaixo de guarda-chuvas propositadamente pintalgados de furinhos e estrelas omissas... de um elevador que deixou de funcionar em estreias artísticas, ascendendo sem, no entanto, fazer grande esforço a um andar que de tanto mudar deixou de ser reconhecível. Instala-se a razão, o justo mnemonicar de passos conhecidos, outrora mas não reconhecidos agora, o julgar de cantos que fazem o mesmo ângulo desde a última vez que os dedilhámos à procura de desenhos novos. As mesma salas, com novas paredes recolhem olhar consternados, perdidos talvez em rodapés que não acendem luzes na memória. As caras são as mesmas, os olhares, embora turvos, em tudo semelhantes a outros que já foram vistos noutros corredores familiares. No ar nenhuma tensão. Nos desenhos expostos nenhuma intensão. Até as varandas do prédio semi-secular dão para pátios penteados com novos cortes. A rua lá fora aproxima-se a cada janela, as pessoas distanciam-se a cada roçar de cotovelos. Entre copos de vinho que não vêm para a minhas mãos, deambulo pelas salas redecoradas com expressões um pouco diferentes, mas sempre as mesmas. Há portas que foram reveladas, escadas que deixaram de se esconder. As salas são as mesmas... talvez? Não. Só sei que, finalmente, ao canto da sala, num canto interno do andar, numa esquina interior do prédio o encontrei, finalemente. Era ali que se escondia o meu sossego familiar.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

frog dancing


Cai
a chuva, vem o vento, sai-se de casa para se desvendar um bairro que nos acolhe. Procura-se uma guarida, procura-se um museu que nos dê em que pensar, que nos mude de ideias, que nos traga algo de velho, muito velho e quanto mais bem explicado melhor. Procura-se ideias antigas, guarda-se um espaço no bolso para um pastel de nata, espera-se uma mensagem digital que nos envie para o outro lado da cidade...
O dia deixa de ser um desafio para se tornar um mundo. Quantos mais amigos inesperados melhor. Um café e uma ginginha Gaveana depois, ainda a tarde vai a ganhar velocidade. Oito pernas debaixo de uma mesa são melhor que quatro, dez podem mesmo complicar... mas o andamento da conversa desenferrujada ao ritmo do latir de relógios esquecidos a meio da semana, solta o espírito e o bem-estar entre casacos sobre a calçada negra que instiga a ascenção, cidade acima. Umas cascas de amendoim em taças longínquas, uma mão amiga que transporta boa conversa, há muito atrasada, há quem escreva fados inteiros a partir de corações vazios, há quem os ouça, quem os tente cantar. Ainda a semana vai a meio e já todos se esqueceram de segunda-feira porque o tempo, esse, sustém-se quando as aulas falecem e os escritório encerram a porta da rua.
É tempo de misturar "furacões" açoreanos com jogos de futebol, tragédias mundiais com mais quatro imperiais, se faz favor. É tempo de rir, de quase dançar na rua, de saír e procurar um novo ponto de vista sobre a cidade que se estende aos nossos pés.
É tempo de suster o frenesim, de sonhar em namorar à Brasileira, de rir da bebedeira geral, parar, olhar e sorrir mais uma vez, desta com a calma de quem inspira o vento que sopra o Atlântico para esta costa do mundo. As luzes espalham-se com o entoar escocês que promete uma nova partida, avisando todos os que moram na rua do escensor da grande vitória que sofrerão no dia seguinte. Esse, virá sim. Amanhã. Quando nos lembrarmos de que o resto da semana existe. Sim... mas só amanhã. Agora caem trovões e a chuva rasga paredes...devia ter sono mas fugiu-me antes que o pudesse tentar convencer a ficar... Onde estará o senhor que dorme na rua, lá em baixo? Para onde irá, antes que quinta-feira o apanhe a ele também?

terça-feira, 8 de abril de 2008

Um Livro de Horas


Quem não contou já o tempo que demora para que algo passe? Quando o tempo nos morde a consciência, o que fica são sempre partes muitos quebradas de momentos que, querendo, nem vemos passar. São horas quebradas pela cegueira, pela surdez... horas mais constantes que as outras, talvez.

ai chuva, chuva, chuviiinhaaa...


Apanhada mesmo à saída do autocarro, em pleno terminal de Belém, ainda abri o guarda-chuva (emprestado de um contentor comunitário de uma sala da faculdade) na remota esperança de que me salvasse de uma tremenda molha. A princípio ainda resultou, pelo menos até ao momento em que dobrei a esquina da igreja de Santa Maria de Belém e fui apanhada de frente com uma revoada de vento que me esperava, ganhando ânsias. O chapéu revirou-se, varetas cedendo em sequência arrítmica, finalmente partiu-se e lá ficou, num contentor mesmo a jeito, completamente feito num nó. Em penas, só tive tempo de esconder os óculos algures debaixo da gabardina e seguir... já não havia volta a dar. As paragens de autocarro estavam de repente demasiado longe, os Jerónimos encharcados e de portas fechadas, um longo caminho deserto pela frente, sem promessa de guarida nem mesmo das arcadas do CCB. Toda a carga o Tejo voltando ao leito... fora a força do vento em si, cheguei a casa.

mensagem de abertura

Um dia houve quem me perguntasse que farias para melhorar o teu desenho?

Na altura respondi qualquer coisa como iria a mais exposições de ilustração... mesmo sendo verdade, tentei ouvir o melhor que pude os meus 12 colegas que, sentados ao redor duma mesa forrada a papel e desenhos doutras mãos, respondiam alternada e regradamente à mesma pergunta. De todos compreendi que, talvez mais do que ver exposições, procurar ilustrações editoriais pelos jornais correntes, engraxar as botas com uma meia de vidro e Nivea... talvez mais do que isso devesse desenhar mais. Observar mais atentamente. Deixar de olhar para a mão que desenha e seguir os contornos daquilo que tentava transpôr para o papel.


Como qualquer desenhador iniciado, sei como funciona o escudo da timidez que me impede de desenhar se estiveres a olhar para o caderno, a desculpa do perguiçoso que está sempre cheio de trabalho, ou a do estudante incompreendido que se desenhar nas aulas as profs acham que não estou a prestar atenção. Sim, conheço-as bem até porque já as usei todas... muitas e muitas vezes.

Mas é preciso regra. É preciso que esteja alguém a olhar para que nos sintamos pressionados a fazer o que nos propusemos. Proponho-me então, aqui e agora, a desenhar todos os dias e a colocar um desses desenhos neste blog por dia.

obrigada pela santa paciência,
Mariana Perry


P.S. também conheço a trincheira do pró-activo que lança um manifesto, acena umas quantas vezes no ar com as mãos, edita o primeiro trabalho, solta uns latidos de vitória... e depois se senta calmamente a ler um livro para nunca mais voltar a pegar no projecto...

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Mariana Perry