sexta-feira, 27 de junho de 2008

danças de equinócio


São tremendas, fulgurantes as alças que me prendem a uma mole de cidadania presa ao chão, São finas e frágeis as ligações que perfazem as meias de vidro com que piso o chão calcinado de esqueletos de sardinha e pimento assado. Tenro o cheiro de cerveja defunta, sem decorativismos ou temperaturas decrescidas, atónitas as caras por fazer dos homens que adormeceram algures na esquina entre a infância e a mocidade. Do mais fino tom de cinzento se recobre o céu e o verso das telhas, devastado pela fumarada de múltiplos churrascos incendiados por uma vontade colectiva de engolir mágoas, alegrias flutuantes, conversas gritadas a um ouvido estrangeiro. Sinto a liberdade que se aninhou no lancil de um passeio recatado, para adormecer a tontura dos gritos que ainda lhe pairam pela cabeça, a graça que se perdeu algures no meio da multidão. Justiça seja feita... amanhã. Logo se vê.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Conversas de Alzheimer XI


Estava a pensar fazer umas férias diferentes... mudar de caras, compreende?

quarta-feira, 25 de junho de 2008

gratos grafismos


Construa, de forma sucinta e explanativa, a imagem gráfica que melhor a define.
Não exceda as 4 cores. Este teste tem a duração de 120 mins.
Acho que falhei redondamente.

terça-feira, 24 de junho de 2008

picasa sucasa


Compreensão cubista, fatalista e imortal. Televendas em uníssono virtual. Saem promessas, vinganças, ilusões e tropeças. Nas palavras e. na pontuação.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

quedas a pique


Alçando o peito sobre um medo que se pretende vencer, içar o ânimo numa escolha que há muito se pôs. Colhendo ideias de uma mistura de menina, erguendo somas que nos farão multiplicar o gesto. Invisível. E insensível, talvez a uma primeira vista. A uma segunda, o jeito com que se ocultou uma premissa preocupante. No futuro doutros dias, que tortas línguas me crescerão na garganta que não aquelas que eu, somente, deixar.

domingo, 22 de junho de 2008

teatro de marionetas


Numa tarde de Verão, sem particulariedade nenhuma, uma tenda de ilusões montada na areia fria encobre a vida de um titeriteiro que faz da goela dos outros a sua voz. Sentados, esses padres verão, sem intimidade nenhuma, uma venda bordada de conclusões de uma montada na sereia esguia, a partida de um feiticeiro que faz da justiça seu pavão, desse óleo, sua noz. Justos os incrédulos adulam a noite que chega, um roupão esquivo que lhes aladroa os bolsos frios de areia, encobre o dia a parteira da sombra que jaz no canto do clarão a sós.
Ide, enluvados gestos, que não vos mostre mais a meu amo, que esse não teve culpa nenhuma nem merece tal postura. Tremam pernas, que não vos quero mais. Agita-te queixo, que sem mágoa de nada me serves. Reveste-te pêlo dos carangueijos que assolam a terra molhada e inculta de um sonho que está por vir. Cerrem-se olhos, que quero dormir.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Travessa da Triste-Feia


Numa rua esquecida de Lisboa, por detrás de uma estação de comboio atolada numa ria que há muito fora enterrada, vive uma casa impossível, sustida por pernas de mosquito. Escondida de um largo que teve menos sorte que a fruta celebrada pela metade, a casa não alberga vivalma, não protege ninguém da chuva e deixa entrar o calor do sol mediterrânico. Lançando convivas a longos percursos velhos, por estreitas escadarias que serpenteiam mais uma colina, rangem os ossos a cada passo, que já nem os santos nos fazem valer a saúde de um infãncia roubada, e estalam dentaduras em cantigas que há muito esmoreceram. Já não sei o que me leva a passar por lá o pensamento, mas, como a esquina mais escura, torcida e roída pela humidade, também esta memória recente se aloja aos poucos num saber que sabe que se instala.

domingo, 15 de junho de 2008

colete de forças...


... das que racham mundos, das que inventam novos padrões, das que erguem cidadelas em ilhas escarpadas e desertas. De vida, um vento que zumbe sem estremecer, que nos leva para longe e nem nos deixa olhar para trás. De mágoa, que tingem as palpebras de um escuro predilecto, que deixam marca na ponta dos dedos, amarelos de enxofre. De um pulsar que nos assola os pés, nos ergue as saias nas mãos e faz dançar no meio da rua os oflhos que não deixamos ver qu etemos. De vida, sim, de um sorriso infindável, sim, um rubro que nos sobe ao rosto e não se transfere para mais niguém, por mais próximo que esteja. Só meu, sim. Entre as unhas que perdem o verniz, a boca que perde a palavra para a rouquidão da memória, os ouvidos que já só escutam o vibram de um tambor que bate, interno, sim, fraterno a felicidade que vive comigo, assim, latente, sim, potente, claro, abismal. Suo o fervor que tenho escondido, deixo-o em panos perdidos em cantos furtivos. Que não mos roubem, que não mos retirem, que só os tenho para guardar. Dos que não se oferecem, dos que não se podem nem contagiar.

sábado, 14 de junho de 2008

Conversas de Alzheimer X


O senhor queira desculpar tamanha indescrição, mas... parece-me o padrão da sua gravata um tanto impróprio para a ocasião...

sexta-feira, 13 de junho de 2008

valha-nos Santo António...


Ainda não aprendeu nada...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

sermão aos peixes


Rios de gente inundam as ruas altas e baixas de Lisboa. Travam-se conversas de sangria na mão, atiça-se a brasa à sardinha alheia, mas que não nos pisem, canta-se alto e bom som, porque há muito que desistimos de chamar uns pelos outros. Perdidos finalmente na multidão, há caras conhecidas em cada esquina, amigos em cada nuca, sorrisos enegrecidos de muitas horas mantidas a mau vinho. Rimas desconexas atravessam o espaço que sobra sobre as cabeças, sob as bandeiras nas linhas de roupa, entre os panos que se tingem de peixe, as grades que oxidam mais um bocadinho para marcar finalmente a passagem de ano, a festa na rua, a música popular e os gritos de um ipiranga perdido algures... sem pena nenhuma.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

apanhar-te


Num rio de água fresca, com as ondas entre os cabelos, feliz criatura. Traz-me do teu contentamento, transporta-me para longe e não deixes nunca mais que meus pés toquem a margem de terra alguma.

o mundo do avesso


Algo se passa aqui... assim que perceber o que é...

terça-feira, 10 de junho de 2008

polir a unha


Todas as quartas terças-feiras de cada ano bissexto...

trocar ideias por mercearias


-Vendo salsichas, e o senhor?
-Molho de lavanda.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

esperar sentado

Sentado porque trabalho, enquanto desenho e mantenho conversas internacionais. Sentado porque espero que de algum modo sentar-me à frente de um monte de papéis agrafado me pode ajudar a que não passe o resto do meu tempo sentado. Passa gente sentada à frente da janela onde assento ideias (piada fácil, eu sei), onde marco sem fervor nenhum as chaves e risco as palavras que, de tão poéticas, me retiram deste estado em que tenho de estar. Sentado. A ler, espero.

domingo, 8 de junho de 2008

Conversas de Alzheimer IX


Tenho estado a pensar e... acho que cheguei a uma conclusão bastante relevante: Essa camisa não é minha?

sábado, 7 de junho de 2008

leitura em novelo

And it is perhaps not surprising that an artist should have made so physiological a statement. For art is also an active process whose function constitutes an extension of the function of the visual brain.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Conversas de Alzheimer VIII

Fiquei a pé a noite toda a tua espera...

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Porte Follie


Sob a guisa de um tema pueril, feito por medida para Illustration Friday

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Halt!



É sempre um problema, quando o tempo não desfia e nos obriga a correr pela rua acima, sempre para cima, sempre em frente. Atrás de uns trabalhos deixados tão decansadamente no tampo da mesa de trabalho de alguém, sempre em cima, sempre outra gente. Dormitando o sono que não tivemos, os papéis finos para que não se notem, sempre em cima, sempre contentes. Agarrando frescos lencóis de um novo pó, sempre em cima, sempre diferente. Sempre o papel, sempre a corrida, sempre a moinha no fundo da testa, sempre a necessidade de deixar acabar, sempre em cima, sempre premente.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Apagando ideias feitas


Conceitos ao pedaços, com verdadeiros bocadinhos de fruta natural, criada ideologicamente no quintal de trás de uma casa algures num bairro social do Estado Novo.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

compreensão omissa


Se mexer os dedos assim, percebes melhor?

domingo, 1 de junho de 2008

personagens de regaço


Papel estirado sobre o colo, lápis ao ombro, lança-se mais um desenho numa aula descritiva, numa sala demasiado cheia de gente que não se escuta, não olha, não pára para ver os projectos que se expõem mesmo a frente do seu próprio nariz. Escondidas na multidão, ideias soltas vagueam pelos cantos, sussuram piadas compridas que atravessam o rosto de quem espreita por cima do ombro, por detrás do casaco amorfanhado da mesa de trás.
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Mariana Perry