quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Justiças enfraquecidas

Olhares evitados. Sacos de ideias feitas e promessas por cumprir. Uma vontade, soberba, de superar aquilo que poderíamos ser. Ouvem-nos quem nos precisa de ouvir. Prescrutam-nos se nos podemos sentar. Procura-nos quem nos precisa. Melhor. Servidas estão as entradas e as neves imaginárias. Surtidas foram as regalias presas no canto do olho. Compridas se tornaram as grilhetas que se penduram pelo ouvido, longas se tornaram as histórias contadas no frio. Silêncio. silêncio... que nunca mais se recontará o acto.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Olhares cruzados

Pernas sedentas de ar. Cabelos erguidos num dramático movimento de atenção pedante. Cinturas descaídas por falta de motivação para erguer es faldas de uma intimação. São pêras, meus senhores, essas que se despegam dos vossos queixares. São azuis, minhas lindas, esses vossos olhares. De frio sentidos, de odores compridos, lânguidos os gestos que se desprendem das vossas pestanas. Mas para quem se esticam elas, minhas senhoras, se ninguém vos reconhece nem o rosto nem o cambalear dos ombros? A quem se prometem lenta seduções pelo prescrutar do contorno dos vossos recortes, se quem vos mira por retorno são as vossas próprias sobrancelhas? A quem se dizem os dizeres da época, a quem se destinam os gulosos dedos escondidos nos bolsos das calças repertadas? São íntimos os olhares partilhados nas ruas, comuns os malfadares deixando rasto nas poças da rua. capito.lares os reflexos de uma vida refundida e revisitada entre pedaços de papel térmico, assinaturas e códigos. De barras?

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Costas largas


Ideias feitas. Noções erradas, de espaço, de volume, de jeito e de perdura. Fundos falsos em panos crús. Sibilantes risadas entre perladas hegemonias. Madeixas de conversas. Perdidas entre sonetos trauteados por altifalantes. Na rua, tudo são famílias. Tudo são grupos de peddos e promessas. Retrocessos sobre agilidades de outrora. Molestadas pantomímias escorrdias em folhas de cartaz. Garrafais. Sedentas. vistas. omissas. perdidas para nunca mais encontrar. o caminho para casa.

domingo, 28 de dezembro de 2008

fora da lista


Quando tudo o que está à vista fica aquém do que poderia servir, restam poucos ideais por onde se poderia prender uma imaginação comprometida a um género desviado... Quando nem nos olham de frente, os dedos encaracolam no martírio que seria ter de vestir as imagens que outros poderão fazer do nosso gesto. São outras as músicas que me correm por detrás dos olhos, por favor desliguem a música do elevador.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Conversas de piedeiro


Entre pernas cruzadas pelo frio, casacos dobrados sobre o peito, uma nesga de um sorriso trespassando os ganchos no cabelo... Sussurram vozes intrémulas por ente pequenos temas sem tréguas à vista. Restituem-se velhos valores, sentençam-se velhos clamores. Vivemos pela despedida, mas também por um restolhar que nos traz de volta o lenço amarrotado aos dedos do aceno. Assobiam-se temas perdidos entre linhas de falas translúcidas e torcidas por entre recolecções mal entendidas. Desenham-se prateleiras no ar enquantos se aquecem as mãos no bafo alheio. Sossegam-se as folhas sob a luz do apiedeiro. Cessa o vento que traz o combóio. Lá vem de novo a luz erguida no escuro que daqui nos partirá para mais um dia separado... da noite.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

presentes


Recentes e amassados. O que ficou esquecido por detrás da árvore, à porta de entrada da casa iluminada por mãos intrépidas. Piscam os olhares ressonantes pelo papel de cada convidado, cada gesto estremunhado pela surpresa presente em cada laço recuperado. Paços e cantigas gravadas em sílica. Gestos mumificados em feltros e linhas cardadas.
-Juro-te que se mexeu!
-Está calado, pá...
-Juro-te! Nem estava a olhar, mas vi! Tenho a certeza.
-Tens lá disso. Cala-te pá,
-Mas olha!
-Cala-te que estão a dar os nomes!
-Juro-te...

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

apetrechos


Desses, que nos assolam por novos os pulsos. Esses, que nos prendem o pêlo à testa, que nos trespassam o ouvido. São loucos, os laços que as conversas dão. Retortos os nós nas gargantas de quem se senta longe da lareira. Remam-se em contra-marés, puxam-se almofadas esoncidas. Sentam-se projectos e repartem-se as tarefas de levar, uma a uma, a loiça para as máquinas engolfadas na sala do lado. Cozinham-se vizinhanças e novos nomes. Congeminam-se sabores esquecidos, refastela-se no vinho trazido. Pede-se mais um chá, para que a conversa continue. pede-se mais uma vez a mesma música, para que o calor não se perca. Dão-se passos de dança embrulhados em listras prateadas, pequenos dissabores em pratos de porcelana. Oferece-se para a troca histórias. Contos de botões reivindicativos.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Lemas de pescoço quente

-São tuas...
-Mas se não me esqueci de nada?
-São tuas, sim...
-Como se as tiraste do teu bolso?
-São tuas, vai por mim...
-Não te posso deixar
-São tuas. Vá...
-N--
-Pega nelas...
-Bom...
-Assim mesmo.
-B--
-Deixaste-as comigo da outra vez.
-Foi?
-Sim.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

lambem-se feridas


Mastigam-se penas. Deixaram apenas os joelhos, rótulos de percursos incontáveis. Não me perguntes tudo e apenas o que te não posso contar. São dias a fio, são memórias por um fio. Tragam o frio ao peito, no botão da casaca por virar. Traguem goles de vinho tordo para vos deslizar as gargantas sem fundo. Percam as horas por vielas igualmente perdidas, mas por favor, por favor... não sobrevivam para contar a história. Que ninguém vos pode ouvir. Mais...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Sons de espécie


-Escuta!
-o quê...
-Shht!
-Mas--
-Shhhhht....
-.
-...
-... ?
-...
-mas o quê?
-É lindo, não ouves?
-pois.

domingo, 21 de dezembro de 2008

pavios curtos

-E se, de repente, o teu papel ardesse?
-O meu papel?
-Sim, se todo o teu papel entrasse em chamas?
-Mas... o meu papel porquê?
-Sei lá, podia ser o meu ou de um tipo qualquer. E se ardesse?
-Mas... ardesse...
-Sim!
-... mas em que sentido?
-si--- sei lá, pode ser para Norte, olha.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Partes para outras


Quantas vezes não vi eu essa moça espreitar-me as bragas? A quantos homens não terá ela implorado que a levassem? Cansados esão estes ouvidos de lhe escutar os pedidos. Todos os dias. E de noite também. Não se cala, a moça, não me deixa chegar o sono. Não tenho descanso com ela do lado de fora da janela. Não tenho descanso! Ouço-os a noite inteira, nem de tarde para para se pôr á sombra. Fica ali, ao sol que a queime toda.
Um dia, levo-a daqui. Depois... depois não sei.

silhares marinhos

Rouquidões e ferrugem. Sempre juntas, sempre a preceito. Quanto pagaria o freguês por esta posta? A quanto ma venderia você, se quisesse a resposta por inteiro? Cordas e negrume. São sempre assim, as meninas? Cantam toda a noite a tentar que lhe dêem atenção. Não se apoquente, meu caro, que, vindo o Sol de madrugada, se calam. Cepos e baldes de água turva. Esfregue-o bem, moço, que a vigia está perto do fim. São horas de joelhos! Outras tantas de recordação.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

tizanas e almofadas


Tardes e ventos mornos, janelas e cortinas despregadas. Pacientes dizeres por ouvidos recentes. Festas ternas em carapinhas tenras, soluços curados em copos de água e cantares submersos. Descalços os talentos e os riscares, expostas as missões derradeiras e o contar de um cuco que não se cala, não se amofina com uma história de deitar. Debruçamo-nos sobre pequenos destinos que nos competem. Mas quando, mas quantos, mas quais... que nomes lhe deixaremos ter, que riscos farão nestas testas silvantes essas pequenas moções, essas acomodadas estruturas, essas ligeiras certezas que trazemos nos bolsos e pelas gavetas de cabeceira...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

marindas

tarimbas e batuques ecoavam nos vales recortados das vielas sem fundo. Molhados de ideias velhas, descabidas de memórias passados. Cabelos negros enrolados aos cantos, caídos de uma janela fachada. Perdida entre os tijolos descarpados, atentando a subida po resses muros húmidos e escorrentes acima, torcem-se as unhas de um pedido esquecido de vida, um sussurro sumido de tanto gritado por dentro do estuque. Dessews furinhos na argamassa sibilavam ainda os cantares de outras mágoas, outras águas vertidas e rebentadas por entre sonhos de compleição rebatido sobre uma dura frieza de reviver. São erros, esses qu ainda deambulam por essas vielas, são mal esquecidos, que impossíveis de obliviar completamente as suas intenções, escondem-nas nos bolsos de calças torcidas. São cantos, cantos cheios de ideias trocadas por miúdos, são trocos as résteas de vidas que ainda permanecem a pés-meios com poças de outras tréguas. São demasiados os medos que consomem os fios expostos a um sol de verão cego. As dívidas, essas, ficam po rali a ganhar bafio, mas não desaparecem, crescem enquanto acumulam pó, crescem enquanto enganam mas uma pobre ideia mal parida. São a metades e são sem meios dali saír. são cães encuralados entre o medo de comer e a fome de saír. Partidos entre os anéis de carcaças, de bicharada perdida em desespero, restam sombras finas rasgadas pela falta de vento.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Caídos, os loucos

Da ribanceira do juízo. Findos os maneirismos. Ocultadores promíscuos das abas de um decir. Sentar. e ouvir. algo que não se encontra com o olhar, mas se vê com a certeza de quem já o perdeu por uma ou outra vez. Vês o que digo? Sentes do que me lembro? De memórias oclusas em sombras trianguladas. entre manchas decôr. diz. e talvez assim nos deixemos escutar. e talvez assim nos deixemos confiar. e tal vez era aquela que nos recontamos, as que não vimos, para que as sintamos, então como um. só.... bafo.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

presentes, passados

... em julgando o que estaria oculto, escondido? Seria a questão mais premente que a descoberta, talvez. Seriam tempos de altruismo cronológico, de despedimento de temores idosos e indolentes. Seriam tremendos os gestos incautos, assustadoras as neblinas matinais. seriam terríveis as menções incautas a pedidos descontidos. Seriam delas as palavras delineadas a ouro negro, seriam delas as palavras recortadas a lâmina de cristal, seriam delas sem excepção os idiomas guturais, demasiado reveladores. Constrictores.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Colombinas

Calombirras, colombanes, calimenos. Carcaçanos, corcovados, circunscritos, descritos em derradeiro vigor. Celimenes, calimeros, cilindrados e carcomidos. Corcenditos, convenditos, cerzidos a fios de língua afiada.

domingo, 14 de dezembro de 2008

excluídas


As hipóteses de falhar. Expelidas as ilusões de caír. Expulsas e avisadas para não mais voltar as grinaldas torcidas de mentiras enlaçadas.

sábado, 13 de dezembro de 2008

gargarejos

Gracejos conturbados, contorcidos entre a hipótese de jocar e de fazer rir... Altos brados de brados incautos, por ventanas empurrados os sopros de quem exalta a sua vontade de rever... um acara perdida, um atara medida. Por um vidro partdido. Por um momentos caído. Por toques de luva e velcro no olhar. São modernos os contemporâneos solfejos de rubor, são contados os momentos... risos afagados... pisos malhados. Polidos por um compasso rotundo duplicado por uma vontade. de sumir.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

sonos abafados

In labor est virtus, in castus est veritas, in memoriam est deum.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Sou um cão


Preso num barranco
à beira mar.
Daqui vejo o fim do mundo
aproximar-se, uma tempestade
de cada vez.
Estou velho e o fim por que
tanto espero tem de estar perto.
Sou um cão, preso por uma coroa
à intempérie
que se aproxima, uma vaga
de cada vez
estou cada vez mais cego
e o fim que sinto aproximar-se
rouba-me os ossos.
Sou um cão velho
mas não por muito mais.
in O Livro das Esperas...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

jujucan di


-Talbés... tiablaré delha?
-São flores, meu senhor... flores de laranjeira...
-Biain.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

minutos

de des.compensação. de des.compressão. des.contracção... São di.minutos os que correm na aresta mais longínqua da memória estirada, são tantos os di.tados, estendidos no covil de folhas de papel. Amarelo por natureza, reciclado por imagens reitradas e prostradas doutros lugares. São abstractos os lugares e os sítios por onde se de.ambula, são atordoados os momentos que já nem se fala com alguém frente a frente. Caras estampadas num fundo de energias recalcadas, que nem passos noutras estradas. Essa deduzem-se que já não existem. Essas deformam-se sob os pés. São imperfeitas as caleiras onde corre água verdadeira, que não se tem de sujar para parecer real. Que não se tem de avisar que foi tocada para que reaja. Não tem dor. Ao menos nisso é real.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

narizes

petizes, infelizes os pingões. São somes petizes os que se assoam enbalões.

sorrisos achados

encontrados entre o estofo de padrão governamental. São tuas as rugas nos olhos de quem te vê. São duas as covas que se tapam a cada fôlego. São insanas as conversas que temos nos entretantos.
Onde deixaste o teu sorriso, menina?
De novo no autocarro...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

t'ais toi

ma filou, um bafo na janela sobre rodas de metal. Rasgam por entre tábuas e privilégios régios, regalos de quem os ouve, torcidos para qum os vê. De longe e a passar, a ganhar velocidade num frenesim inconstante, mofiento, mafioso, contrasensual e retorcido. São temas de uma actual idade de desprendimento. De desprezo, porque não, de desvalorizações. A moeda deixou de ter uma face real.
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Mariana Perry