domingo, 21 de setembro de 2008

Ocupas


Escondido, dentro de um armário escuro, perdido numa sala antiga onde as conversas são apanhadas nas teias e se colam ao pó enevoando as paredes. Algures, temendo cada gemido do soalho, cada estalar da madeira dos estrados dos louceiros. Sustendo a respiração para que as gavetas não traiam, marcando na memória a colocação precisa de cada peça de vasario precioso para que não quebre como roçar do medo. Sustido entredentes na vertigem de que a qualquer momento, a qualquer segundo, um par de brilhos o encontre ao fundo da prateleira. São temíveis os jogos de caça, quase tanto como os de cama que se esticam lá fora, escondendo parapeitos e semi-ocultando ombreiras perfuradas, rendidas ao calor. Elevando o corpo para que não pese no estrado, enrolando os punhos para que se não rasgue o papel de forro, fino que nem seda. Perdem-se as horas como as riscas do papel com o tempo.
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Mariana Perry