segunda-feira, 16 de junho de 2008

Travessa da Triste-Feia


Numa rua esquecida de Lisboa, por detrás de uma estação de comboio atolada numa ria que há muito fora enterrada, vive uma casa impossível, sustida por pernas de mosquito. Escondida de um largo que teve menos sorte que a fruta celebrada pela metade, a casa não alberga vivalma, não protege ninguém da chuva e deixa entrar o calor do sol mediterrânico. Lançando convivas a longos percursos velhos, por estreitas escadarias que serpenteiam mais uma colina, rangem os ossos a cada passo, que já nem os santos nos fazem valer a saúde de um infãncia roubada, e estalam dentaduras em cantigas que há muito esmoreceram. Já não sei o que me leva a passar por lá o pensamento, mas, como a esquina mais escura, torcida e roída pela humidade, também esta memória recente se aloja aos poucos num saber que sabe que se instala.
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Mariana Perry