sexta-feira, 11 de abril de 2008

numa exposição sem fumo


Dias de liberdade incondicional quebram-se pouco a pouco em desmesurada inconsistência, um remoínho de lazer que não sobe escadas, que não vê quadros, que deixa mesmo talvez de sentir os amigos escondidos debaixo de guarda-chuvas propositadamente pintalgados de furinhos e estrelas omissas... de um elevador que deixou de funcionar em estreias artísticas, ascendendo sem, no entanto, fazer grande esforço a um andar que de tanto mudar deixou de ser reconhecível. Instala-se a razão, o justo mnemonicar de passos conhecidos, outrora mas não reconhecidos agora, o julgar de cantos que fazem o mesmo ângulo desde a última vez que os dedilhámos à procura de desenhos novos. As mesma salas, com novas paredes recolhem olhar consternados, perdidos talvez em rodapés que não acendem luzes na memória. As caras são as mesmas, os olhares, embora turvos, em tudo semelhantes a outros que já foram vistos noutros corredores familiares. No ar nenhuma tensão. Nos desenhos expostos nenhuma intensão. Até as varandas do prédio semi-secular dão para pátios penteados com novos cortes. A rua lá fora aproxima-se a cada janela, as pessoas distanciam-se a cada roçar de cotovelos. Entre copos de vinho que não vêm para a minhas mãos, deambulo pelas salas redecoradas com expressões um pouco diferentes, mas sempre as mesmas. Há portas que foram reveladas, escadas que deixaram de se esconder. As salas são as mesmas... talvez? Não. Só sei que, finalmente, ao canto da sala, num canto interno do andar, numa esquina interior do prédio o encontrei, finalemente. Era ali que se escondia o meu sossego familiar.
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Mariana Perry