sexta-feira, 11 de abril de 2008

um olhar diferente


Que me guiassem os pés, que me gozassem um bocadinho por os deixar à solta, como aliás faço de vez em quando. É mais fácil deixar o pensamento divagar quando deixamos de nos preocupar onde pomos os pés, em quem pisamos ou em que buraco na calçada cairemos a seguir. Dói menos quando nos gozam por nos deixarmos ir do que quando nos deixamos caír sem razão aparente.
De olhar perdido nos pequenos pormenores que encontro a cada esquina, a cada recta, a metros acima da cabeça ou que me vêm roçar directamente nos braços, deixo de sentir o vento para sentir a côr, cheirar as linhas que me levam consigo. Deixo mesmo de ouvir quem acompanho só para levitar um bocadinho nesse lugar momentaneamente abstracto. Escondidos por detrás de umas míseras dioptrias, pequenos vazios absorvem a luz que ribomba de todas as mais pequenas texturas, por vezes; das mais simples composições, por outras.
Esse olhar deixou de ver o que lá está por fora para se deixar restar no que o assalta por dentro, nas gentes que ficaram algures num espaço, sempre algo também abstracto, numa suspensão temporal absurda. O olhar talvez se deixe ficar sempre intrínseco, nunca vendo exactamente essa vontade que se deixa observar, estarrecida pelo percorrer orbital alheio e expondo-se sempre mais uma vez...
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Mariana Perry