sexta-feira, 3 de outubro de 2008

dos píncaros do reconhecimento

Do alto de umas solas de borracha, vê-se o bairro de uma nova dimensão. Esta gente, que não nos viu crescer, agora assume que conhece perfeitamente essa pessoa que as cumprimenta com uma palavra aprendida e bem colocada. São correctas a postura e o tom de voz, estão minimamente alinhados os cabelos num penteado da década corrente. Evitam-se as desgraças elaboradamente esquecidas de caninos alheios, perdem-se horas a escutar as de corpos gastos e surpreendentemente rendidos à gravidade de uma vidinha de banco de cozinha e agulhas de crochet à sombra de uma cortininha de meia-haste. De dentro de paredes de cabedal, soltam-se lampejos e assobios pouco abafados dirigidos a contornos recentemente com novo bambolear. São dementes os retorcidos nas mangas, nervosos os dedos que seguram a alsa da mala. Recorrente o pavimento que se desenrola debaixo de umas solas de borracha que vêem o bairro de uma nova dimensão.
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Mariana Perry