sábado, 11 de outubro de 2008

No sopé de uma ideia

Os telhados, de rosto adoçado por esse sol divino de uma estação que se deixou ficar para trás, tentada a fezer-se desapercebida, com a certeza de quem veste umas sandálias em pleno Outono. Seguros de si, correm a cidade pé ante pá, não fossem os inquilinos dar pelo seu ribombar, entre o cheiro a fritos e gritos frios colinas abaixo. São escurecidos pela malícia de um sorriso as convida a bailar e depois se esconde antes da música acabar, sem oferecer um copo de vinho que seja. Sorvem caldo em paus de canela demolhados, fazem longos discursos pela taquicardia lunar. São poucos os que os ouvem, menos os que os vêem saltar, que se escondem e baixam sobre paredes pintadas menos sortidas. São desplicentes pelo vento de levante, que traz a sombra pálida de uma careta que nunca os conseguiu fazer sorrir. Estão demasiado bêbados para a ver. Nunca voltam ao mesmo leito, nunca sobrevoam a mesma casa. trazem consigo as novas mágoas de uma brincadeira demasiado ingénua. Saltam memórias de viagens antigas, sobre calhas que não ganhavam pó. Sobre relva que não se quebrava sob o seu passo, de águas que nunca foram mais limpas. Saltam corridas, pelas colinas, pelas vielas mais enganadoras, pelos becos e pelas avenidas. Saltam postes de iluminação e sebes desencantadas, saltam canteiros sem voz e nem mesmo a calçada lhes prende os pés. São loucos, desenfreados e incontornáveis. E sabem-no demasiado bem.
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Mariana Perry